Essa é uma história errada. Todos que leram disseram isso e aposto que quando lerem também pensaram que podia ser diferente...
J era um homem muito eloqüente, sua presença convencia sempre, era um lorde, um gentleman. Raro homem brasileiro nasceu pobre e critico, sempre via algo errado nas falas dos políticos, dos intelectuais que insistiam que toda a nossa miséria intelectual, social, cultural era fruto da pobreza dos pobres que não se esforçavam pra ter, mas ter o que não se conhece? Como?
J não se conformava.
Sinto muito em não descrever sua face, não a vi, soube através de uma rede social sua curta historia de vida e vitoria.
Ele, por não se conformar por ser culpado por ser pobre foi à universidade e pediu uma bolsa, conseguiu e estudou ciências sociais, se sentiu pleno, as respostas que procurou em sua infância e na inquietude da adolescência pareciam se desvelar, desejou continuar e devorar cada autor, cada conceito, seus textos eram sempre comentados pelos professores como critico, visionário.
Como disse era de origem pobre e para manter-se no curso começou a prestar serviços na própria universidade. Assim J conheceu mais, se agigantou a olhos nus. Aos 23 anos se formou e foi convidado a fazer um curso de especialização em Londres, hesitou, mas outra bolsa de estudos como essa sabia que não teria condições de bancar, embarcou cheio de esperança para o velho mundo, o berço do socialismo e do capitalismo, o cenário das grandes lutas sociais dos últimos séculos...
Ao chegar se instalou numa republica e ouviu que a cidade seria inundada, e que a população emudeceria, depois dessa inundação Londres seria mais uma vez cenário histórico. J enlouqueceu por imaginar que se tratava de uma revolução e ele seria testemunha ocular em tempo real.

Depois de três noites ouvindo esses ruídos incômodos, resolveu, por curiosidade, investigar de onde vinha aquele barulho, afinal em um lugar onde todos são considerados tão finos e cordiais um barulho que perturbava a leitura de um estudante não lhe parecia nem cordial e nem fino.
Tocou o interfone no meio da noite fria, o fog de Londres era arrepiante, então uma voz frágil atendeu com muita calma, J se esforçou em seu inglês pra perguntar se estava tudo bem, a mulher disse que sim e quis saber se podia ajudá-lo em algo. Ele agradeceu, pediu desculpas pelo incomodo e se despediu.
A velhinha desligou o interfone:
"Merda! Reclamaram do barulho. E agora, como vou terminar de desmembrar esse corpo?"
J nunca viu a enchente que calaria as vozes gerais londrinas. Estudou, encontrou boa parte das respostas sociais que procurava, se encantou por uma inglesinha e se casou. Ano passado voltou ao Brasil, só uma pergunta nunca foi respondida!
Marlene Borges
Marlene Borges
inspirado em : "curta, contos curtos, http://curtaconto.vilabol.uol.com.br "
Nenhum comentário:
Postar um comentário