domingo, 14 de outubro de 2012

Ar e fogo! Os contrários se atraem?



Faz tempo que não trago uma história interessante por aqui. Tive algumas tristes, mas escrevi em outros lugares, nem queria que elas fossem lidas, nem eu voltei lá para lê-las novamente. Enfim, fui percorrer outros caminhos, mas senti saudades e encontrei pessoas que contaram com bom humor e poesia algumas boas historias.
Essa veio de um encontro repentino, tão repentino que nem a pessoa que contou sabe dizer ao certo qual foi o ponta pé inicial desse jogo, diz ,sem muita convicção, que são três meses de jogo, e ri dizendo que seja como for é sensacional!
Começamos conversando como quem se encontra depois de muito, muito tempo , ironicamente, estudávamos juntas, e nos víamos absolutamente todos os dias e até toda hora, e enfim, a vida nos leva por caminhos diferentes e desencontrados, e para saber das novidades e últimos acontecimentos sentamos e esquecemos da hora, haja história, petiscos e bebericos!
Ela me contou que foi trabalhar em uma escola e reencontrou outro antigo companheiro de estudos, ele, que na época de escola era magrelo, usava óculos, era muito tímido, enrubescia a cada vez que a professora chamava sua atenção, não chamava atenção de ninguém e nem queria, vivia na dele, apesar da timidez era bem visto pela turma, era estudioso, e sempre que o assunto eram textos da próxima aula tinha algo interessante a dizer, era muito amigo e conselheiro de quem o procurava. Ela era, e é até hoje uma tremenda pimentinha, dessas mulheres que chega chamando atenção, não é nem um pouco discreta e nem quer ser, era a popular da turma. Eu sempre conversei com todos, tinha amizade com os dois inclusive, mas aquela combinação nunca me passou pela cabeça!
Numa bela tarde, saíram do trabalho depois de um dia bem intenso, ele a convidou para uma cervejinha para comemorar, ela aceitou, brindou, e mais uma, e mais outra, e outra, até que, uma olhada sem óculos e a timidez desapareceu e a convidou, ela aceitou e a tarde virou noite, e a noite madrugada, e a madrugada manhã e a sintonia dos contrários foi tão intensa que nem perceberam o tempo passar, veio carinho, fogo, tesão, calmarias, conversas, risadas e até planos para um novo encontro e outro, e outro. Resultado? Seus olhos marejam quando fala o nome dele, ela sorri a toa, parece boba. Confesso que surgiu até uma pontinha de inveja, e entendi por que os contrários se atraem!
Marlene Borges

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Uma mesa, uma conversa e viva a revolução!



Léa tinha a pele delicada e generosamente tingida pela melanina concentrada e bem distribuída em seus belos 1,60 de altura, apesar de magra tinha pernas e braços bem torneados, cabelos bem cuidados e penteados não admitia sair à rua sem uma boa escova e uma olhadela no espelho, nem que fosse o que carregava  na bolsa.
Diante dessa descrição pode-se entender uma mulher dentro dos padrões de beleza brasileira, mas havia algo diferente, era o modo de vestir, ou o andar, ou até a tatuagem que ela trazia na nuca sempre a amostra, ninguém nunca conseguia dizer o que acontecia.
Como era uma mulher independente desde cedo, sempre trabalhou para bancar seus estudos, saiu de casa aos dezoito anos quando conseguiu tirar a carta de motorista, dizia que agora seria a dona de um carro e do seu nariz. Conseguiu aos vinte e dois anos financiar seu primeiro apartamento e fez uma feijoada para comemorar a inauguração do novo lar, como batizou sua casa.
Sempre rodeada de amigos, Léa saia todas as noites para a aula e nas sextas dava uma esticadinha  até o dia amanhecer, era eclética, ia do samba ao rock dando uma passadinha no xote sem preconceitos, só não curtia funk, porque segundo ela, fazia mais barulho que o samba, o rock  e o xote juntos.
Numa noite dessas, depois de cumprir todas as longas tarefas do dia se sentou com a única intenção de tomar uma cerveja, jogar um pouco de conversa fora com um ou dois amigos e ir para casa cedo, mas encontrou num canto, um antigo companheiro de trabalho, um ideólogo, um filósofo, dizia sempre que era fascinada por suas historia  e pensamentos de revolução social que mudariam o mundo.

O encontro foi tão inesperado e feliz que dura até hoje.
Dividiram para multiplicar, diminuíram para somar, contradisseram-se para combinar, brigaram para ter paz e foi assim que um fez a revolução na vida do outro!


Marlene Borges

sábado, 15 de outubro de 2011

Uma sala vazia e ...


Já era fim de semestre e a maioria das salas pelos corredores fazia eco na escuridão da universidade.
Gabriela era  uma estudante habitualmente tímida, sentava-se no fundo da sala, tinha poucos amigos e estava sempre pelos cantos com livros em mãos, geralmente lia dois ou três ao mesmo tempo.
Mas havia alguns movimentos que chamavam sua atenção.
Por vezes, no café enquanto lia, levantava leve e discretamente seu olhar quando ouvia alguns rumores, não entendia bem, mas , em meio a tantas vozes de um ambiente como aquele  dava atenção especial a uma, seu coração palpitava com aquela risada alta, havia algo diferente, não era simples risada de uma pessoa cercada de outras que o  seguiam, era um brilho auditivo, sonoro, especial.
Desconcentrava, nem sabia mais qual era o parágrafo que havia acabado de ler, desistia, ia para a sala de aulas sem se conformar como uma presença podia lhe atormentar tanto.
Naquela noite, Gabriela estava decidida a colocar em pratica a fantasia que a voz estranhamente distinta em meio a mil,  lhe trazia a mente durante todos os dias de sua presença.
Sentou numa escada e começou a ler casualmente, mas estava tensa, porque  não tinha certeza se o dono da voz passaria por lá, mas depois de alguns minutos, veio a voz, as palpitações e a pessoa, num súbito se levantou, sem dizer uma palavra arrastou-o para a primeira sala do corredor e....


Marlene Borges

sábado, 3 de setembro de 2011

A menina que aprendeu se maquiar


Ela era cercada de cuidados quando pequena, muitos mesmo, saia pouco a rua, ia da escola para casa e de casa para os cultos dominicais, onde aliás tinha sua  maior parcela de amigos,os mais confiáveis diziam seus pais, tanto cuidado fez essa menina ficar meio sedentária, ela não conseguiu andar de bicicleta, quando subiu em arvores já era pré adolescente e se estatelou no chão a primeira vez, mas insistiu, era corajosa e se divertia com essas tentativas, dizia que não sabia bem se eram as cicatrizes que contavam historias ou as historias  que contavam as cicatrizes.
Quando cresceu foi, como todo filho de trabalhador, estudar em escola pública e passou pela profissionalização, escolheu costura, mas se descobriu na modelagem, era divertido criar modelos, vestir babies, cortar tecidos coloridos, pensar em desfiles de moda com aqueles vestidos enfim.


 Então a menina ajudou a produzir um desfile de modas como avaliação final do curso, ela se encantou, que diferente o rosto daquelas modelos pintados como as das atrizes da novela, queria saber como se faziam as maquiagens das modelos, observou, observou, até então só sabia passar batom a caminho da escola, escondido dos pais. Mas ela não conseguiu imitar, e depois pensou que não fazia sentido usar maquiagem em seu dia-a-dia.
Hoje, essa menina cresceu, ela embarcou em uma realidade onde faz sentido ser ela mesma sem vergonha de ser feliz, descobriu que o processo de construção dela é verdadeiro e tem  toda certeza do que quer, é mais decidida,  forte, e isso transparece na sua alma.
A menina virou Mulher, aprendeu a se maquiar porque faz sentido agora, porque se maquiar serve pra dar relevância, destacar sua beleza interior tão ocultada! Vive ansiosa por novidades, e elas virão....

































Marlene Borges.

sábado, 27 de agosto de 2011

Histórias, somente histórias.... Água gel

Dia desses visitei uma cidade no meio, mas bem no meio do agreste. Era bonita, e ao contrário que se pode imediatamente pensar, havia água, árvores viçosas e cheias de frutas coloridas e plantas rasteiras tipicas daquela região. O povo da cidade era simples, contavam histórias maravilhosas, que apesar de serem repetidas, sempre tinham um "Q" de especial, de personalidade de quem contava.
Essa ouvi do seu Nonô, um senhor muito simpático que reunia no fim de cada tarde um amontado de crianças, adolescentes e até adultos para ouvir atentamente suas histórias, as de sempre, que  eram contadas diferentes, e as novas que arrancavam além da atenção de sua platéia, um sonoro AHHHHHHHH!
Então ele ria, e continuava:
Essa cidade que hoje agente vê tanta vida, já passou por dias difíceis! 
Certo dia, fomos buscar água na fonte lá na ladeira e quando colocamos  nas canecas e nos potes a água virou gel, assim mesmo, igual gelatina que vocês gostam de comer cheia de formas quadradas, redondas....
Agente tentava tomar e a água virava gel, quem era muito rápido ainda bebia um golinho, mas a maioria das pessoas que tentavam beber, continuavam com sede.
Pode imaginar o que é a vida sem beber água?
O prefeito chamou um cientista para examinar a água, ele colocou um pouco  num daqueles vidros especiais e água virou gel também, ele olhou, olhou, e depois de muito pensar disse serenamente:
Vossas senhorias precisam de um filtro especial para que a água gel seja modificada e volte ao normal.
Lá no meu barracão temos como costume usar um filtro de barro, ele sempre está pronto a oferecer uma água fresquinha, e tenho que dizer que tava morrendo de saudade de uma água molhada !
Resolvi experimentar e  funcionou, toda a vila foi lá em casa pra beber água fresca e limpinha....
Foi assim.
Depois de ouvi uma história assim tão extraordinária....Eu acordei e fui correndo beber ÁGUA! 


Marlene Borges