sábado, 16 de julho de 2011

testemunha brasileirada de uma Inundação idealizada....


Essa é  uma história errada. Todos que leram disseram isso e aposto que quando lerem também pensaram que podia ser diferente...
 J era um homem muito eloqüente, sua presença convencia sempre, era um lorde, um gentleman. Raro homem brasileiro nasceu pobre e critico, sempre via algo errado nas falas dos políticos, dos intelectuais que insistiam que toda a nossa miséria intelectual, social, cultural era fruto da pobreza dos pobres que não se esforçavam pra ter, mas ter o que não se conhece? Como?
J não se conformava.
Sinto muito em não descrever sua face, não a vi, soube através de uma rede social sua  curta historia de vida e vitoria.
Ele, por não se conformar por ser culpado por ser pobre foi à universidade e pediu uma bolsa, conseguiu e estudou ciências sociais, se sentiu pleno, as respostas que procurou em sua infância e  na inquietude da adolescência  pareciam se desvelar, desejou continuar e devorar cada autor, cada conceito, seus textos eram sempre comentados pelos professores como critico, visionário.
Como disse era de origem pobre e para manter-se no curso começou a prestar serviços na própria universidade. Assim J conheceu mais, se agigantou a olhos nus. Aos 23 anos se formou e foi convidado a fazer um curso de especialização  em Londres, hesitou, mas outra bolsa de estudos como essa sabia que não teria condições de bancar, embarcou cheio de esperança para o velho mundo, o berço do socialismo e do capitalismo, o cenário das  grandes lutas sociais dos últimos séculos...
Ao chegar se instalou numa republica   e ouviu que a cidade seria inundada, e que a população emudeceria, depois dessa inundação Londres seria mais uma vez cenário histórico. J enlouqueceu por imaginar que se  tratava de uma revolução e ele seria testemunha ocular em tempo real.
Enquanto essas idéias  ecoavam em sua mente, lia e se preparava para o curso que começaria logo, mas  ouvia um sons vindo do prédio visinho,  era uma agitação que o fazia perder a concentração.
Depois de três noites ouvindo esses ruídos incômodos, resolveu, por curiosidade, investigar de onde vinha aquele barulho, afinal em um lugar onde todos são considerados tão finos e cordiais um barulho que perturbava a leitura de um estudante não lhe parecia  nem cordial e nem fino.
Tocou o interfone no meio da noite fria, o fog de Londres  era arrepiante, então uma voz frágil atendeu com muita calma, J se esforçou em seu inglês pra perguntar se estava tudo bem, a mulher disse que sim e quis saber se podia ajudá-lo em algo. Ele agradeceu, pediu desculpas pelo incomodo e se despediu.   
A velhinha desligou o interfone:
 "Merda! Reclamaram do barulho. E agora, como vou terminar de desmembrar esse corpo?"
J nunca viu a enchente que calaria as vozes gerais londrinas. Estudou, encontrou boa parte das respostas sociais  que procurava, se encantou por uma inglesinha e se casou. Ano passado voltou ao Brasil, só uma pergunta nunca foi respondida! 


Marlene Borges
inspirado em : "curta, contos curtos, http://curtaconto.vilabol.uol.com.br "