sábado, 23 de julho de 2011

Histórias, somente histórias.


Quem se aproximasse daquele casal pensaria sempre na perfeição, na ternura incorporada  neles, eram perfeitos, bonitos, jovens e bem sucedidos social e profissionalmente.
Foram morar algum tempo atrás no sitio da família dele por desejarem se afastar dos centros urbanos e por ela sofrer com a poluição, e apesar das distancias, perceberam que valia a pena sair mais cedo de casa pela qualidade de vida que se anunciava.
No sitio havia uma paisagem paradisíaca, pássaros, arvore frutíferas, fontes de água fresquinhas, onde era até possível ver algumas carpas coloridas e outros peixes ornamentais. A casa era confortável, grande e arejada. Perfeito, diziam a cada passo que davam.
Como disse eram jovens, ela era dessas mulheres que chamam atenção até de shorts, chinelos e com o cabelo preso desajeitado.
 No domingo saíam.  Ele sempre queria mostrar-lhe algo, mas não havia muito a se conhecer naquela cidadezinha, somente uma praça, uma igreja no centro, uma figueira centenária onde a prefeitura  construiu um monumento meio folclórico que dizia que a vida na cidade começou a partir daquela árvore, e a sorveteria que foi eleita o ponto de encontro preferido dos mais jovens. Às vezes ela ia sozinha lá, sentava-se e tomava um sorvete muito lentamente. Mas quem se derretia eram os olhares que testemunhavam a cena.
Ela se divertia com os olhares, e fazia de propósito, queria mais chamar atenção e aproveitava os seus 5minutos de fama que movimentavam a serenidade do lugar onde as horas eram estáticas.
Até que encontrou o que procurava...
Seu marido distante, trabalhando tanto, sentia uma melancolia profunda naquela casa grande e vazia.
Então ele chegou, escreveu alguns versos num guardanapo de papel e a entregou, ela gelou, empalideceu, calou-se sem nenhuma ação.
Os versos:

Vi o meu sentido confundido, iluminado
Vi o sol enluarar, quando viu você 
Vi a tarde inteira, a Sexta-feira, o feriado 
Esperando o amor chegar e trazer você Você chegou querendo
Tudo que o tempo não te deu
E que levou de você; Sem saber que você já sou eu 
Agora não entendo 
O meu relógio o amor tirou 
Mas sei que o meu coração
Tá batendo mais forte  
 Porque você chegou




Esforçou-se durante muito tempo por mudar de vida. Finalmente percebeu que lhe bastava vivê-la.
Marlene Borges.

inspirado em  micro contos  @microcontos
http://microcontos.com.br/ e na poesia de Vander Lee "Iluminado"